Luz branca – Como a percebemos

Como sabemos, a luz branca é formada a partir da composição de várias cores e vários comprimentos  de onda, resultando em uma distribuição espectral de potência, a qual sensibiliza os olhos, sendo transformada em sinais visuais pelo cérebro.

Dependendo  da composição das intensidades e dos valores desses comprimentos de onda, podemos perceber diferentes tipos de luz  branca, informalmente classificadas em três categorias: branco  frio, neutro e quente. 

Uma das referências que existem, quanto à percepção da luz  branca, é o que chamamos de temperatura de cor, que define a  cor, ou o tipo de branco que uma fonte de luz emite. As curvas  de temperatura de cor são curvas do tipo isotérmicas (mesmas  temperaturas) e são distribuídas ao longo da curva do corpo  negro (black body locus), conforme apresentado na Figura 1. A  unidade de medida da temperatura de cor é em graus Kelvin (K)  e quanto menor seu valor, mais “quente” será a luz, e quanto  maior, mais “fria” será. 

Como a distribuição de LEDs brancos ao longo da curva do  corpo negro era muito dependente do fabricante do LED, sendo que cada um tinha a sua própria distribuição de “bins”, a  American National Standard Institute (ANSI) introduziu a norma  C78-377-2008 para definir os limites máximos de variação das  coordenadas de cromaticidade para cada valor de temperatura  de cor. Com isto, os fabricantes de LEDs começaram a especificar seus produtos conforme este padrão, o que facilitou muito a  especificação por parte dos usuários, permitindo melhor entendimento e comparação entre as opções de LEDs para o projeto de seus produtos. 

No gráfico da Figura 2, é apresentada a representação da  curva do corpo negro com os valores das temperaturas de cor  com os respectivos quadrantres que limitam as coordenadas de  cromaticidade. Esta norma baseia-se no estudo das elipses de  MacAdam e são equivalentes a aproximadamente 7 SDCM (Stan dard Deviation Color Matching) para cada quadrante.

Como podemos notar no gráfico acima, temos a distribuição  dos pontos centrais dos quadrantes alojados sobre ou próximos à  curva do corpo negro, o que significa que podemos considerá-los  realmente brancos, pois quanto mais afastamos as coordenadas  x,y da curva do corpo negro, mais observamos o fenômeno do  “tingimento”, uma vez que começamos a perceber a mescla  com cores adjacentes. Neste ponto, podemos constatar que ao  simplesmente definirmos uma determinada temperatura de cor,  não necessariamente estamos especificando de forma correta,  pois, para o mesmo valor de temperatura de cor, podemos ter diferentes coordenadas de cromaticidade e, portanto, percepções  diferentes de luz branca. 

Talvez, o entendimento disto seja um tanto quanto difícil, por tanto façamos um exemplo prático. Na Figura 3, apresentamos  o diagrama da Figura 2, com foco na temperatura de cor de um  LED de 3.000K.  

Temos, então, a representação da norma ANSI C78.377-2008,  no qual detalhamos o quadrante das máximas variações de  cromaticidade para um LED de 3.000K. Note que a curva na cor  vermelha que corta o quadrante horizontalmente é a curva do  corpo negro, e a curva perpendicular representa a curva isométrica relativa aos 3.000K de temperatura de cor.

Figura 1 – Representação do diagrama CIE 1931 com a escala das várias temperaturas de cor.

Vamos, então,  considerar dois pontos sobre a curva dos 3.000K, sendo o ponto A com coordenadas de cromaticidade (x1,y1) e o ponto B de coordenadas (x2,y2), ambos sobre a reta dos 3.000K.  Podemos concluir que, por se tratar de uma reta isométrica (mesma temperatura), os pontos A e B terão a mesma  temperatura de cor, porém, comparando-os, notamos que os  dois apresentam tonalidades de branco diferentes.

O ponto A  apresentará um tom rosado e o ponto B apresentará um tom  esverdeado. Isto se deve ao fato de que, quanto mais afastado  do corpo negro estiver o ponto A, maior será a influência da  cor magenta, e quanto mais afastado do corpo negro estiver o  ponto B, maior será a influência da cor verde. Chamamos este fenômeno de tingimento (do inglês tint). 

Com isto, podemos concluir que quanto mais próximo ou  superposto estiver o ponto de coordenadas x,y do corpo negro,  mais pura será a cor branca obtida. Por este fato, concluímos  também que não é suficiente simplesmente especificarmos o valor  da temperatura de cor; é preciso também especificar e limitar os  valores das coordenadas de cromaticidade do LED. 

Já ouvi, muitas vezes, profissionais da área considerarem os  LEDs com cor branca quente mais frios do que as lâmpadas  convencionais. Na verdade, o que costuma acontecer é eles  poderem apresentar um tingimento esverdeado, e então, ser  confundidos como mais frios. 

Figura 2 – Representação gráfica da especificação da cromaticidade para produtos de iluminação de estado sólido, no diagrama de cromaticidade CIE 1931. 

Figura 3 – Representação detalhada dos limites de cromaticidade  conforme norma ANSI para um LED de 3.000K.

A fim de melhor compreender no que realmente consiste a percepção da luz branca, o LRC (Lighting Research Center) realizou  alguns experimentos com o objetivo de medir nossa percepção de  iluminação branca levando em consideração diferentes valores de  temperatura de cor. Como resultado final, a percepção de luz branca  sem tingimento para altas temperaturas de cores (acima de 4.000K)  está associada a coordenadas de cromaticidade ligeiramente acima  da curva do corpo negro. Contrariamente a isto, para valores de  baixas temperaturas de cores (abaixo de 4.000K), a percepção está  associada com cromaticidades bem abaixo da curva do corpo negro. 

Na verdade, de certa forma, este estudo vem confirmar algo  que a indústria de LEDs já havia concluído anteriormente, princi palmente com base nas especificações feitas por vários lighting  designers ao redor do mundo. Em projetos com temperatura  de cor variando de 2.700K a 3.500K, é comum especificarem a  cromaticidade abaixo da curva do corpo negro. 

Hoje, já é possível se obter LED branco quente com o ponto  central de cromaticidade da elípse abaixo da curva do corpo negro. Dessa forma, além da boa consistência de cores, garante-se  também uma percepção mais agradável da luz branca sem os  indesejáveis tingimentos. 

Referências:

  1. ANSI_NEMA_ANSLG C78.377-2008 – Specification for the
    Chromaticity of Solid State Lighting Products
  2. ASSIST: Alliance for Solid State Illumination Systems and
    Technologies. Perception of White Light Sources of Different Color
    Temperatures. LRC study of 2011.

Sobre o autor

>> Vicente Scopacasa é engenheiro eletrônico com pós-graduação em Administração  de Marketing. Tem sólida experiência em semicondutores, tendo trabalhado em  empresas do setor por mais de 40 anos. Especificamente em LEDs, atuou por mais  de 30 anos em empresas líderes na fabricação de componentes. Atua, hoje, como  consultor na área de iluminação de estado sólido e como professor em cursos de  especialização e pós-graduação em iluminação.

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